terça-feira, 10 de fevereiro de 2009


Recôncavo Paulista

Quando Caetano cantou para mim que alguma coisa acontecia não só no coração dele, mas de todos os mineiros, gaúchos, cariocas e baianos quando cruzam a Ipiranga com a Avenida São João, isso soou de forma tão magistral que não tive como não sucumbir a esta vontade e passar, mesmo um pouco tímido, por aquela esquina. Confesso que tudo aquilo que ele nos diz é tão ou mais incrível de se sentir, mesmo que esta São Paulo que por hoje caminho não seja, nem de longe, aquela que Caê cantou um dia, já que eu, que nasci em São Paulo, a cidade do barulho, da vida noturna que nunca acaba, por motivos até hoje desconhecidos, fui respirar os ares do sul, bah... que coisa mais linda aquele lugar... Mas não pude deixar tudo isso aqui, não pude não obedecer às ordens de um coração paulistano, e, voltando, me dei conta de que nada entendi: só me era notável a grandeza de suas poesias concretas e da sutil deselegância discreta de suas meninas. Ainda não havia para mim Maria Bethânia, esta que hoje esquenta o meu coração... Mas alguma coisa ainda acontece comigo quando cruzo, numa tarde cinza, tipicamente paulistana, o vão do MASP, e, por outras vezes, caminhando pelo centro antigo chego a achar tudo muito passado, batido e acabo por julgar de mau gosto, mau gosto, mau gosto toda aquela gente aglomerada sob um sol de rachar côco... Paradoxalmente, isso só serviu de prova que não existe e nem nunca vai existir nada que possa ser comparado ao centro antigo todo iluminado!
E hoje, só me resta sentir falta de um momento que, assim como eu, acredito que muitos adorariam também presenciar: caminhar sob uma noite de fina garoa e descobrir Sampa através dos olhos poéticos de nossos Lindos e Eternos Baianos que para sempre serão nossos Doces Bárbaros! E que, partindo do distante recôncavo baiano conseguiram decifrar em partes que a feia fumaça que sobe e cobre as estrelas desta linda cidade é o tempero que a faz única, e não só isso: descobriram a Sampa das Pan-Américas Utópicas, onde moram os deuses da chuva onde até hoje surgem novos poetas de campos e espaços!

(BrunoSabores/Cosmopolita)



obs: alguma coisa ainda acontece no meu coração ...

para ler ouvindo: SAMPA (CAETANO VELOSO) do Lp: MUITO (Dentro da Estrela Azulada) *1978

7 comentários:

Anônimo disse...

São Paulo de todo Brasil.

São Paulo dessa gente colorida, de falas e de costumes,só posso dizer que meu coração bate muito acelerado por você.

Gal
beiju gentem

Avarandados do anoitecer disse...

A pervesa e amada cidade com seus problemas, seu perfume de arte e suas noites inesquecíveis onde até os mendigos, como os banqueiros, têm seus charmes e suas periculosidades.



- cena de sangue num bar da avenida São João...



V i c t o r S o n s

Anônimo disse...

do Recôncavo bahiano, dos pampas gaúchos ou das Gerais é sempre uma comoção chegar a Sampa, seja em meio à multidão ou parado, em silêncio, entre a a Ipiranga e São João.

MeggieLetras

Thiaguito disse...

Não há palavra que expresse o que sinto por você São Paulo minha cidade, minha tentativa tropical, meu berço do certo e duvidoso, do poético e ferroz destino....Quanto mais te conheço mais me apaixono, seja na Ipiranga ou na minha varanda.

Sérgio de Moraes Paulo disse...

"...em cada esquina um amigo/em cada rosto a igualdade/o povo é quem mais ordena/ dentro de ti oh! cidade..." Zeca Afonso, cantor e compositor português, Grândola, Vila Morena: feita por ocasião da Revolução dos Cravos.


Nesses versos estão o que eu imagino ser uma SP melhor.

Grande abraço e parabéns pelo Blog.

Unknown disse...

Grande Moraes!

geograficamente correto!

Digão disse...

Retrebuindo a visita e deixando minha inesperada admiração pelo blog de vocês que eu não conhecia.
Em relaçao a essa postagem,fiquei maravilhado pois sou um paulistano apaixonado por esta cidade.
Parabéns pelo Blog tão poético e por uma postagem tão sensível.