terça-feira, 21 de abril de 2009

severadoce.

E eis que um dia antes do feriado em saúde do herói-mineiro-esquartejado- brasileiro o destino traz para mim, antes do ônibus que eu aguardava, um exemplar feminino e conterrâneo de Joca Xavier. Ironicamente, o exemplar tem nome português: Severa Tavares, tão português quanto o quinto dos infernos que era o imposto que pagávamos à Coroa à época em que tínhamos ouro suficiente para ser explorado em abundância.
Severa chegou-se a mim amigavelmente, como nessas crônicas pleonasticamente urbanas, indagando se sabia eu qual ônibus descia a Rua da Consolação. Respondi-lhe que sim. Que lindo! Subiríamos o mesmo autocarro!!! E aí então fiquei quase que totalmente calada o trajeto todo, já que 87 anos ainda “volantemente” ativos (Sê renovou sua carta de motorista há três meses) têm muito mais o que contar que 22 percorridos a pé ou em transportes públicos. Ou não.
“A experiência chega pra gente quando já não temos mais o que fazer com ela”, disse-me a jovem. “Se eu tivesse 15 anos com a experiência que tenho hoje, faria tudo diferente. Mas agora, o que posso fazer?”. Ouvi isso em uma atípica segunda-feira à tarde, quando minha cabeça borbulhava de ignorante e inexperiente ansiedade...




(MeggieLetras)

domingo, 12 de abril de 2009

Páscoa salgada

- Hoje, nessa tarde ensolarada fazendo meu almoço de Páscoa, não menos solitário que os outros tantos almoços, pensando no abuso dos temperos que coloco nessa salada chamada vida, muitas vezes consumida sem seus devidos talheres, sempre me vem a poética pungente dos analfabetos sentimentais cheios de liberdade e falsas moralidades; penso nos reis, penso e dramatizo os pés descalços - sem tirá-los do chão, imagino a casa da vó e os chocolates que não terei, as brigas com os pais, as discussões com deus - distraído - sempre! Me corto, o vermelho misturando-se com algumas gotas de leite respingadas na pia, fazendo, assim, um molho à cor do fogo que acendeu o meu cigarro.
Limpo, passo o pano do tempo em toda sujeira, lavo a ferida sabendo que não irá cicatrizar tão rápido, volto a fazer a comida do dia da ressurreição, ligo o som, lembro de Santo Amaro - lugar que nunca fui e morro de saudade. Mergulho o dedo no pote de branco, ai!

- O sal que mais arde,
tão inofensivo e branquinho
deixa marcas sem alarde
o seu nome e saudade!


victor sons[tana]